terça-feira, 8 de novembro de 2011

Desperdício ou desvio?

As várias mortes do rio Tietê

As manchetes não deixam dúvidas: "Após 18 anos, poluição no Rio Tietê está pior". Foram 18 anos de promessas de que o rio daria inveja ao rio Sena, na França.

A despoluição consumiu nada menos do que R$ 2,8 bilhão. Parte do dinheiro foi empréstimo de um banco japonês. Mas a despoluição não foi realizada.

Nos 9 pontos avaliados em 2010 - último levantamento realizado - 4 eram péssimos e 3, ruins. Dos 6 monitorados desde o ano de 1992 - quando foi lançado o plano de despoluição - 5 estavam piores. Aliás, é o caso de se perguntar: por que não foi realizado nem mesmo monitoramento em 2011? O governo do estado desistiu do rio? Ele será, para sempre, um esgoto a céu aberto?

Na maior parte da região da Grande São Paulo, as taxas de oxigênio do rio são praticamente zero, o que inviabiliza a vida aquática.

Aliás, denúncia dos jornais dão conta de que nem mesmo a limpeza da calha do rio foi feita, embora as empresas terceirizadas encarregadas do serviço tenham sido pagas. Mas o trabalho não foi realizado.


A limpeza do fundo do rio é necessária pois as chuvas carregam para o rio toneladas de sedimentos vindos das milhares de obras da Grande São Paulo. É só passar perto de uma delas em dias de chuva para constatar que a enxurrada está vermelha de terra e areia. Tudo isso acaba sendo depositado no fundo do rio. Como esse sedimento fica invisível aos olhos, escondido pelo caldo negro que é o Tietê, os governantes acham que não é tão importante assim realizar a limpeza. Isso resulta em enchentes e, também, na redução da vazão. Ou seja, aquela "água" passa mais lentamente pelas cidades, reduzindo ainda mais a oxigenação e espalhando mau cheiro e doenças.

Além do esgoto doméstico que, na maior parte, não é tratado, há o esgoto industrial. Ao passar por pontos do rio em que há indústrias, nota-se que as galerias jogam no rio líquidos de cores exóticas, como verde, azul, bordô. Isso, obviamente, é resíduo químico industrial.

Nota-se o descaso das autoridades com os rios em vários momentos. Por exemplo, você já se perguntou por que aquele riozinho que fica dentro do Parque do Ibirapuera (dentro do Parque!!) é um esgoto, com águas pútridas e malcheirosas? Segundo denúncias, os canos de descarga dos prédios que ficam dentro do Parque (e são muitos) jogam os dejetos diretamente naquele "riacho". Prático, não?

Recentemente, foi feita a duplicação das pistas marginais do rio Tietê. O custo, que era de R$ 1 bilhão, passou para R$ 2 bilhões. A obra foi condenada por estudos técnicos diversos porque ela impermeabiliza as margens do rio, agravando o problema das enchentes. Além disso, os técnicos de trânsito alertavam que a duplicação não resolveria o problema dos congestionamentos. De fato, não resolveu. A marginal continua entupida como sempre. A questão dos engarrafamentos só será resolvida, dizem os especialistas, quando São Paulo oferecer transporte público em quantidade e qualidade, o que não é o caso hoje.

Então são três mortes do rio: não-tratamento de esgotos, não-limpeza da calha, impermeabilização das margens. Esses três erros graves terão que ser corrigidos. Água é bem precioso, e cada vez mais escasso.


Nenhum comentário:

Postar um comentário